quinta-feira, 26 de junho de 2008

Do vazio

Já sofreu e chorou por amor... Já esqueceu o amor. Já se lembrou desse sentimento. Da paixão, ainda guarda o gosto de não vivê-la. Não viveu? Viveu só nela, e hoje sabe que precisa...

Ela... No nome, no corpo, na alma trazia a paixão. E se lamentava, porque nos tempos em que viviam, entregar-se à qualquer tipo de sentimento causava histeria. A assepsia sentimental era a tônica da contemporaneidade. Entristecia-se ao ver tantos envolvidos (?) em caminhos insossos, trajetórias vazias, preenchidas unicamente pela certeza de se ter algo... Algo que nem sempre era o melhor, o desejado, mas enfim era algo. E isso, para quase todos, era melhor que a incerteza da busca. Ela nem sabia tampouco se essa busca levaria a algum lugar. Mas viver sem o fogo, sem a paixão, ela não... Rejeitava o sem sabor do querer loucamente... Queria querer, ser querida, queria o fogo consumindo... E se lembrou da amiga: “Prefiro a cinza à matéria intacta”. Porque a cinza, ali, era o sinal de que houve vida. E tantas vezes havia se refeito dessa cinza, com a capacidade quase inquebrantável de começar tudo de novo, e de novo se fazer matéria, para novamente ir de encontro ao fogo que, embora queimando, a faria de novo viver... Preferia assim, ainda sabendo que podia doer... Mas a dor era o reverso da felicidade. E uma sem a outra, ela não acreditava nas suas existências separadas. Viver demais. Ser feliz demais. Ser triste demais.
Buscava um contraponto. Uma saída para os momentos de dor. Sabia que eram parte do processo de viver demais. Mas, humana que era, nos tempos em que sofria, sentia nisso a eternidade... Dias vazios, paixões não correspondidas, vontades não satisfeitas. Via, em poucos segundos, sua paixão virar raiva. Queria o mundo para satisfazer seus caprichos.
Procurava uma fuga para a dor. Chorava. Remexia seus discos, CDs, livros, poesias. Buscava fora uma resposta para as dúvidas e mágoas. Queria saber do outro. Se sentia sozinha, não entendia as reações dos outros e sentia raiva daquele sentimento, que embora palpável, não se transformava em realidade.
Não queria mais o medo entorpecente. E tinha raiva daqueles que se deixavam paralisar por ele. Não conseguia se lembrar das vezes em que o medo a paralisava. Porque isso havia acontecido certamente. Mas trazia consigo a certeza que brigou, e brigaria muito para que este medo não fosse o definidor de seus caminhos.
Queria acesso aos que têm fome, aos que morrem de vontade, àqueles que secam, ardem. Então, que esperasse.

TSM, um dia num mês de um ano qualquer

2 comentários:

Serpentina EsKarlate disse...

Ela não sabe, mas lá naqueles anos de 94, quando vagávamos pelas ruas na madrugada filosofando e catando estrelas cadentes, nossas viagens, choros, palavrões, gritos, gargalhadas, cigarrinhos, sonhos e papos cabeça que me tiraram das contas e me levaram para as letras... Ela foi responsável pelo início de tudo o que tenho no papel hoje... E agora sinto uma alegria me tomando a alma com esta grata surpresa... Surpresa não pelo seu talento, pois ela sempre foi visceral, mas por ela ter resolvido assumi-lo. Que lindas letras! Quem disse que quem não gosta da superfície não tem par?
Me senti agora como naquele dia em que cansadas de esperar por uma estrela cadente na esquina já íamos saindo e você apontou para o céu e disse "aparece logo que estou indo embora" e ela apareceu só porque era você quem estava pedindo, eu sei!

Tati disse...

Obrigada, esKARLAte!! Beijos

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