terça-feira, 30 de setembro de 2008

Identidade - outra face

Um inferno astral antecipado, e agora quase no final, pelo menos é o que espero. Percebi hoje que tenho o tempo contado, então aproveito os segundos finais do descanso que me resta. Nunca mais deixarei um abraço para depois, gosto deles, e assim fiz ontem um chamado para um abraço de despedida. Não para tempos de longas ausências, visto que nos veremos daqui a pouco, mas nunca mais ficará para depois um abraço, um beijo, um carinho. Meu gostar é também pelo toque.
Meu corpo quer descanso, mas meus pensamentos não dão trégua, e tenho que tentar uma tradução. Eles me governam, eis minha conclusão. Gostaria de contar histórias, tenho muitas e posso inventar outras tantas, imaginação não me falta. Tenho um baú de memórias, e gavetas abarrotadas de lembranças.
Tenho medos calados e alegrias escandalosas, e insisto em continuar dando voz e “corpo” aos meus sonhos todos. Anoto no meu caderno roxo, dou vida a eles, ainda que uma vida de papel (melhor que não existir nunca). Descubro a cada dia que ter um mundo de amigos faz daqui realmente um lugar melhor, obrigada a todos vocês que trazem um pouco de esperança. Olho em volta, vejo o deserto, mas tenho a impressão de divisar algo parecido com um oásis. Sou um misto de dor, vergonha, esperança, e muitas, poucas certezas. Uma delas é a de que o fim da estrada não é aqui.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Identidade

A vela que insiste com sua chama inquieta, e me atormenta os pensamentos. A chuva, que não dá mais trégua, e o senso comum diz que é primavera. Imagino se as estações se rebelaram com a loucura do mundo e agora se comportam como bem entendem. Reminiscências vãs. Ninguém responde às minhas perguntas. Questionamentos demais, cobranças demais, dúvidas demais.

Faz frio, e por mim, assim é melhor, me sinto ainda mais acolhida no refúgio, lugar de repouso que criei, e onde me escondo de tudo quando quero. Exercito os pensamentos escrevendo coisas que ninguém lê, me acalmam e basta isso. Penso naqueles por quem peço, nem sempre consigo atender quando precisam, eu que nem de mim escuto os sinais. Eu agora habito o silêncio das madrugadas frias, e inauguro a estação gelada das flores, a quem recebo de braços cobertos. Tenho pensamentos-turbilhão, que me mantêm insone, e nada em mim nasce pronto, tudo é meio sem sentido. Ainda consigo ver graça em algumas cores, reparo que gosto particularmente de uma delas. Faço planos de conhecer o mundo e penso às vezes que mal conheço minha cidade. Já quis ficar por aqui eternamente, mas penso hoje que pode ser tempo demais. Apaixono-me por músicas, sem saber o que dizem suas letras, agora tenho ouvido musical. Aprendi a cantar e dançar sozinha, e posso fazê-lo também em boa companhia. Não tenho certeza sobre o que quero, mas tenho alguns nãos na ponta da língua. Aqui é onde mora o incerto. Disciplinar pensamentos é tarefa ingrata. E ao final, eu sou apenas o outro ponto de vista de mim mesma.

Refúgio

Eu quero ir prá roça
Andar pela estrada de terra,
Ver as vacas recém-ordenhadas,
Ver carro de boi, fogão a lenha,
Comer milho assado na brasa.

Quero meus primos todos juntos
Contando causo de lobisomem
Aparição e alma penada,
História pra criança assustar.
Quero meu vô e minha vó
Luz de lamparina, querosene.
Cobra verde espantada.
Do quarto de dormir.

Quero coalhada feita
De leite deixado a azedar,
Manteiga batida na hora,
Quero o rio pra nadar,
O rio que serve também
Para lavar a vasilha
E restos de arroz são para “pescar”.
A menina com a bacia na cabeça,
A cacimba cheia de piaba,
O sol brilhando no raso do rio,
Eu quero voltar pra lá.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Big Bang

São tempos...
É o tempo
Inexorável
Deixando marcas
Ao passar

A espera
Ainda infinda
Atormenta
O tempo que resta
Quanto resta?
Quanto até o fim?
Quando o fim virá?
O fio da meada
Esse eu perco
O fio do princípio
Que princípio?
Onde está?
Tempo, morte
Fim e vida
O caos inevitável
De existir-pensar.

domingo, 21 de setembro de 2008

Despedida

Chuva, chuva... Há dias chove, e com raras exceções, os dias são cinzas, quase que em tempo integral. Eu não fico cinza com eles, meu humor, ao contrário, fica melhor. Amo o sol também, tudo tem seu lugar. Contudo, tenho uma quedinha particular pelos ares cinzentos, pelo frio.

Meu canto, uma música boa, um filme, um incenso, o cobertor certo, um livro, a companhia... E o fundo cinza, que a mim só traz intimidade e mais aconchego. São lindos os dias do quase-fim desse inverno.


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Mais cultura na rua

Buenos Aires, San Telmo
Banda local

Orquesta Típica Imperial

Cultura de Rua

Um pouquinho de tango, em San Telmo, Buenos Aires, no meio da rua. Devíamos ter muito mais dessas manifestações em nossos espaços públicos, pois como lembra Martha Medeiros, arte dá a qualquer dia um ar de feriado. Nós, simples passantes, platéia ávida, merecemos, e os artistas agradecem.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Inhotim, Brumadinho, MG, Brazil

Mais fotos desse lugar lindo!




Fotos por Tatiana Santana

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Só de sacanagem (Elisa Lucinda)

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

De mortes e mais

A morte. Da esperança, da vontade, do desejo, do vital. Caminho para espantar os pensamentos tumultuados em minha cabeça. Não consigo, são teimosos. Então, tento organizá-los, para que ao menos me deixem em paz. Não deixam. Coloco uma música, várias. As felizes não encontram eco. As tristes me doem como nunca e também não quero ouvi-las. Olho o céu, azul, apesar do cinza de dois dias atrás. Não deu na meteorologia, ou se deu não ouvi, mas disse que seria assim.
Pensei que é fácil demais pular, eu que julguei alguém que me disse outro dia da vontade do fim. É fácil, do segundo não porque só ferimentos, alturas maiores. Mas o beija-flor passa, aliás passam dois, e lembro que são anunciadores de boas notícias. Não sei para quem são elas, eu que não recebo nenhuma. Não há o milagre da comunicação, eu não me fiz entender e não entendi os outros.
A morte. O fim. Ele espreita sempre. Ainda sem certeza, já visto o luto, porque sou assim, dramática. Ganhei o direito ao nascer mulher.
A morte da promessa, da felicidade. Ninguém me prometeu nada, nunca discuti esse assunto, e nem sequer sei dizer se é um sonho meu.
Penso na vida que têm as pessoas que passam por mim. Imagino a história e se têm dores. É inevitável. Às vezes não falam delas, mas têm.
1h10. Pensei em 1h30, a cabeça ainda fervilha. Mas quero voltar para o escuro, para onde, dizem, se deve fazer essas coisas. Ainda tenho fome, assim vou resolvê-la antes de me fechar de novo. São 2 meses, são 7 meses, falta uma semana para a entrada no inferno astral, mas desconfio que ele se antecipou. Muita coisa para comemorar. Alea jacta est. E foi. Espero. Que não se demore.
No escuro, uma mão estende-se. Não me dou ao luxo. Pego-a. Uma hora de conforto, escuro de novo. Mas virá o dia novo, com os trabalhadores todos à volta, me expulsam. Passarei o tempo esperando o escuro, onde vivo agora. Não há salvação.
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