quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Happy Hour

18h30. Desanimadinha, visto que nada nesse mundo se movia, resolveu tomar um espumante e comer queijo brie, não queria saber se combinavam, na boca o gosto lhe agradava, danem-se os experts, eles não estavam em sua cozinha.
Não tinha emprego, logo sem renda, não podia colaborar para o crescimento da economia do país, não podia se endividar pela TV e colchões novos, nem pela mesa de jantar (precisava de algo decente para receber as visitas, não podia receber visitas sem dinheiro), contava agora os centavos da carteira.
Para passar a noite, resolveu que escreveria. Sobre a sensação de pagar impostos numa cidade/estado que não a empregava, droga de roça grande, essa. Não pagaria porcaria nenhuma até conseguir um trabalho decente (só pobre é assim, não gosta de dever, tem que manter o nome, a única coisa que é dele, já rico deve, deve sempre: dinheiro, muito, favores, todos). E o jornal de ontem ainda dizia que os empregos estavam no interior... Mais essa agora.
Então que a pessoa se esfola para trabalhar/estudar/morar só/sustentar-se, tudo isso aos 21 anos, ganhando algo como dois salários mínimos. Consegue, nem sabe como, mas consegue (isso é que deveria aparecer em “Vídeos incríveis”, sua vida, a de vários, filmada).
Não contente, ela quis ser Alguém. Brigou por uma promoção, cresceu, ficou grande demais onde estava, e precisava de um lugar maior. Foi atrás, e conseguiu de novo, com ela era assim, as coisas aconteciam, e se não, ela fazia acontecer. Chegou Lá, um lugar que já era o Maior do mundo, e não bastasse o Lugar ainda tinha a missão de ser o Melhor do Mundo, assim com maiúscula, todos os continentes. E lá também ela cresceu, contaminou-se com as visões, missões, virou Alguém ainda maior, Alguém gerente, salário bacana, resultados bacanas, dinheirinho no bolso. E enfim, era Alguém, mas Alguém de saco bem cheio de tanta falação, e ralação, e dinheiro nem tão bom assim, pensando bem. E então, virou alguém sem emprego. E agora vai dormir, porque acabou de tomar um leite quente com chocolate, e amanhã precisa continuar a busca, precisa voltar a ser Alguém.

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